ao vê-la adormecida, inerte nos sentidos,
recordei contos lidos de uma esquecida infância,
senti um aperto no peito, pela ignorância
de ver passar o tempo por meios indevidos.
é ao vê-la prostrada ao sono da idade
que me urge a saudade de a ver senhora das horas.
e perguntam-me, os que me veêm: "porque choras?"
- a luz do dia esvai-se sem demoras.
resto eu e a nostalgia, memórias de mocidade...
foi numa longa tarde soalheira, em tons de rosa-carmim,
que descobri este triste fado em mim.
BellaMafia
segunda-feira, novembro 27, 2006
quinta-feira, novembro 23, 2006
Alguns póssamos e tanhamos hádem ser mais grandes que muitas outras coisas
é cada vez mais habitual encontrarmos novas formas de apresentação do léxico português. a criatividade lusitana, ao que parece, não se esgota na procura de artifícios para contornar leis ou parceiros, encontra sempre novos desafios... (nem vou questionar a validade dos mesmos. para quê?)pois deparou-se a língua portuguesa com um registo incomensurável de novos adeptos extremamente criativos e, porque não dizê-lo, sinistros. o objectivo - depreendo - será a transformação progressiva da nossa língua em mais um fantástico recorde do Guiness Book of Records, a marca a almejar é de língua mais complexa do mundo. o timing é perfeito, enquanto os russos se preocupam com a Tchetchénia e a Ucrânia, os chineses com a sua crescente economia e a gripe das aves, outros com assuntos mundanos como as armas nucleares, o efeito estufa, as energias renováveis, o aumento do petróleo... nós sub-repticiamente lá vamos conquistando o nosso lugar de incompreensíveis (literalmente).ora vejamos alguns casos:
póssamos: com origem no verbo poder, teve como base a sua derivação "possamos". como justificar a alteração? ao que parece a conjugação original era algo insípida, com falta de ritmo... os nosso caros conterrâneos, numa atitude quase minimal, adicionaram-lhe um acento transformando a palavra numa perfeita exdrúxula... fantástica intervenção, uma arte!alguns numa atitude considerada exacerbada, quiseram ainda resumi-la a uma formação simples: póssa-mos, sem dúvida alegórica mas ainda com parcos fundamentos para existir.
outros verbos estão a conciliar esta nova frente criativa e a aderir ás novas e alegóricas, conjugações.
hádem: esta derivação é sem dúvida a coroa de glória dos novos vocábulos, com base no verbo haver e na sua derivação "hão-de", várias foram as discussões entre as mais altas instâncias, no que concerne à língua portuguesa, e determinou-se a atribuição de uma conotação mais intelectual do que um mero latir de cão (hão) ao verbo. a pesquisa levou-nos à mitologia grega nomeadamente ao deus grego do inferno, Hades... um verbo com uma base histórica é uma raridade, logo, foi de comum acordo que se estabeleceu que esta nova conjugação traria não só suspiros de intelectualidade a um povo caracterizado pela sua incongruência, como seria uma obra dedicada à antiguidade. Hadém, "vai buscar!"
mais grande: este é um caso muito simples de minimalismo e facilidade de ensino, ora se já existe um adjectivo "grande", inclusive proveniente do latim grande, para quê estar a criar uma palavra para caracterizar algo de tamanho superior em relação ao que já é grande? esta questão levantada pelos novos senhores da nossa língua tem imensa propriedade. defende alguma nata da sociedade que "maior" por também ter bases no latim (maiore) é um adjectivo de valor equivalente ao grande, mas os novos "fidalgos-linguísticos" contrapõem que seria mais apropriado seguirmos uma linha germânica e atribuirmos mais sílabas ás palavras, i.e maisgrande ou mais-grande ao invés da simplicidade bacoca do "maior"; estas serão evoluções previsíveis do léxico português que por enquanto se mantém dividido entre o maior e mais grande.
após esta breve nota sobre os laivos criativos da nova génese portuguesa, espero ter contribuído para uma melhor relação com uma língua cada vez mais complexa na forma e na comprrehensione.
BellaMafia
póssamos: com origem no verbo poder, teve como base a sua derivação "possamos". como justificar a alteração? ao que parece a conjugação original era algo insípida, com falta de ritmo... os nosso caros conterrâneos, numa atitude quase minimal, adicionaram-lhe um acento transformando a palavra numa perfeita exdrúxula... fantástica intervenção, uma arte!alguns numa atitude considerada exacerbada, quiseram ainda resumi-la a uma formação simples: póssa-mos, sem dúvida alegórica mas ainda com parcos fundamentos para existir.
outros verbos estão a conciliar esta nova frente criativa e a aderir ás novas e alegóricas, conjugações.
hádem: esta derivação é sem dúvida a coroa de glória dos novos vocábulos, com base no verbo haver e na sua derivação "hão-de", várias foram as discussões entre as mais altas instâncias, no que concerne à língua portuguesa, e determinou-se a atribuição de uma conotação mais intelectual do que um mero latir de cão (hão) ao verbo. a pesquisa levou-nos à mitologia grega nomeadamente ao deus grego do inferno, Hades... um verbo com uma base histórica é uma raridade, logo, foi de comum acordo que se estabeleceu que esta nova conjugação traria não só suspiros de intelectualidade a um povo caracterizado pela sua incongruência, como seria uma obra dedicada à antiguidade. Hadém, "vai buscar!"
mais grande: este é um caso muito simples de minimalismo e facilidade de ensino, ora se já existe um adjectivo "grande", inclusive proveniente do latim grande, para quê estar a criar uma palavra para caracterizar algo de tamanho superior em relação ao que já é grande? esta questão levantada pelos novos senhores da nossa língua tem imensa propriedade. defende alguma nata da sociedade que "maior" por também ter bases no latim (maiore) é um adjectivo de valor equivalente ao grande, mas os novos "fidalgos-linguísticos" contrapõem que seria mais apropriado seguirmos uma linha germânica e atribuirmos mais sílabas ás palavras, i.e maisgrande ou mais-grande ao invés da simplicidade bacoca do "maior"; estas serão evoluções previsíveis do léxico português que por enquanto se mantém dividido entre o maior e mais grande.
após esta breve nota sobre os laivos criativos da nova génese portuguesa, espero ter contribuído para uma melhor relação com uma língua cada vez mais complexa na forma e na comprrehensione.
BellaMafia
terça-feira, novembro 14, 2006
Faz-me viajante e eu faço-te caminho
viva!, algo perdido e desencontrado de tão só e sóbrio. a sua respiração tímida, entrecortada por delinquentes perfumes de maresia, transportam-me, juíza, à compaixão pela santa pobreza, digna por auto-flagelo, da hipotética porta de entrada à terra de Santa Maria de Belém.
passam cacilheiros, transeuntes, gentes de bulício, por aquela estação de isolamento... sinto-me constrangida de tão só que se me apresenta a dignatária! quase tão obsoleta quanto o regime que a fez nascer.
cruzam-se comigo sobre a pressão da clepsidra laboral, sem despeito pela arquitectura, peões da Trafaria ou Porto Brandão. quem sabe ela seja tão indiferente de concludente, que nada representa, nada consubstancia?
rejeito a ideia de que tal arquitectura seja apenas a obra "apoética" de um combinado estatal; não foi também a Estação Fluvial de Alcântara vítima de um processo, em vaga, de melhoramentos das condições de trânsito?, conta ,no entanto, a mesma com o apadrinhar generoso de Almada Negreiros. porque não vivo eu a presença de alguém?, porque será esta estação tão fria?
promovo na minha mente a equação que levara o pretérito Arqº Frederico Cardoso de Carvalho, assim como ao confrade Engº Duarte Pacheco - senhorial ministro das obras públicas - a executar uma obra tão pouco pública. por que razão intenções tão camuflatárias teriam sido adoptadas num círculo de património tão concerne à nossa grandeza lusitana?
sento-me enquanto me distraio na congeminação dos factos... aquele telhado de duas águas, aquela pseudo-torre de ambições a faroleiras, à qual o tempo roubou o fardo; aquelas janelas de enclausura que absorvem a alma de tanto sufocarem a presença. retraio-me com um novo plot, talvez a ideia de tão célere projecto - como foi o habitar da costa com monumentos fluviais - se manifestasse pela experiência negativa do transeunte antes da viagem epopeica à realidade adjacente.
os cacilheiros passam, assim como as pessoas e o tempo, uns de destino a Lisboa, outras a menos ambicionadas viagens, nenhuma com este destino.
desisto da ideia de me transformar amorfa para agradar à condição da estação em estudo, liberto-me temporariamente da posição expectante e procuro a origem das sombras que tornavam o meu objecto tão na pas de quoi. à direita encontro o Museu da Electricidade, antiga central tejo, em tempos o locci mais iluminado de Olisipo, hoje um imponente edifício cuja erosão tem vencido com o brio da elegância britânica.
à esquerda avisto ao longe, quase que em horizonte de memória, o Padrão dos Descobrimentos, uma imagem irreal naquele displante de vazio arquitectónico. volto a questionar a razão da estação. começo a caminhar deixando em rasto segundos de afastamento daquele elemento fluvial tão dúbio, sinto-me envolvida pelas árvores, pela sombra que elas respiram, a batalha interior que me conduzia fugia-me em espiral... uma amnésia abençoada liberta-me da repressão ideológica e compreendo finalmente a origem daquela criação, a sua razão, o seu esquecimento em presença e vivência... eram as árvores, as árvores do olvidar, elas transformavam o espaço, elas cortavam os laços, a simbiose... escondiam o objecto da conjuntura urbana.
regressei num impulso à Estação Fluvial, ela ali estava, de fundo soava abafado, pelo som daquelas árvores quebrantes, o comboio, chamando passageiros em sofreguidão. eu associei no imediato aquela voz à condição da estação marítima... aquela rectidão, aquele desprezo pela agradabilidade, constrangeu-me. de repente apetecia-me mudá-la, pegar nos volumes funcionais e "afuncioná-los", construir uma barreira de criatividade e destruir a doutrina da opressão - a palavra ditadura assolou demasiadas vezes a minha mente. era isso que ela representava, uma súbdita de um idealismo ultrapassado e industrializado e eu não podia fazer nada, a sua existência seria sempre aquela monotonia apaisanada, sem momentos.
desisti. aquele objecto de estudo não era o meu objecto, era o objecto de ninguém. e foi assim que o deixei, no crepúsculo, enquanto me cruzava com os passageiros, os transeuntes...
in Estação Fluvial de Belém
BellaMafia
(escrito em 2000, arranjado em 2006)
passam cacilheiros, transeuntes, gentes de bulício, por aquela estação de isolamento... sinto-me constrangida de tão só que se me apresenta a dignatária! quase tão obsoleta quanto o regime que a fez nascer.
cruzam-se comigo sobre a pressão da clepsidra laboral, sem despeito pela arquitectura, peões da Trafaria ou Porto Brandão. quem sabe ela seja tão indiferente de concludente, que nada representa, nada consubstancia?
rejeito a ideia de que tal arquitectura seja apenas a obra "apoética" de um combinado estatal; não foi também a Estação Fluvial de Alcântara vítima de um processo, em vaga, de melhoramentos das condições de trânsito?, conta ,no entanto, a mesma com o apadrinhar generoso de Almada Negreiros. porque não vivo eu a presença de alguém?, porque será esta estação tão fria?
promovo na minha mente a equação que levara o pretérito Arqº Frederico Cardoso de Carvalho, assim como ao confrade Engº Duarte Pacheco - senhorial ministro das obras públicas - a executar uma obra tão pouco pública. por que razão intenções tão camuflatárias teriam sido adoptadas num círculo de património tão concerne à nossa grandeza lusitana?
sento-me enquanto me distraio na congeminação dos factos... aquele telhado de duas águas, aquela pseudo-torre de ambições a faroleiras, à qual o tempo roubou o fardo; aquelas janelas de enclausura que absorvem a alma de tanto sufocarem a presença. retraio-me com um novo plot, talvez a ideia de tão célere projecto - como foi o habitar da costa com monumentos fluviais - se manifestasse pela experiência negativa do transeunte antes da viagem epopeica à realidade adjacente.
os cacilheiros passam, assim como as pessoas e o tempo, uns de destino a Lisboa, outras a menos ambicionadas viagens, nenhuma com este destino.
desisto da ideia de me transformar amorfa para agradar à condição da estação em estudo, liberto-me temporariamente da posição expectante e procuro a origem das sombras que tornavam o meu objecto tão na pas de quoi. à direita encontro o Museu da Electricidade, antiga central tejo, em tempos o locci mais iluminado de Olisipo, hoje um imponente edifício cuja erosão tem vencido com o brio da elegância britânica.
à esquerda avisto ao longe, quase que em horizonte de memória, o Padrão dos Descobrimentos, uma imagem irreal naquele displante de vazio arquitectónico. volto a questionar a razão da estação. começo a caminhar deixando em rasto segundos de afastamento daquele elemento fluvial tão dúbio, sinto-me envolvida pelas árvores, pela sombra que elas respiram, a batalha interior que me conduzia fugia-me em espiral... uma amnésia abençoada liberta-me da repressão ideológica e compreendo finalmente a origem daquela criação, a sua razão, o seu esquecimento em presença e vivência... eram as árvores, as árvores do olvidar, elas transformavam o espaço, elas cortavam os laços, a simbiose... escondiam o objecto da conjuntura urbana.
regressei num impulso à Estação Fluvial, ela ali estava, de fundo soava abafado, pelo som daquelas árvores quebrantes, o comboio, chamando passageiros em sofreguidão. eu associei no imediato aquela voz à condição da estação marítima... aquela rectidão, aquele desprezo pela agradabilidade, constrangeu-me. de repente apetecia-me mudá-la, pegar nos volumes funcionais e "afuncioná-los", construir uma barreira de criatividade e destruir a doutrina da opressão - a palavra ditadura assolou demasiadas vezes a minha mente. era isso que ela representava, uma súbdita de um idealismo ultrapassado e industrializado e eu não podia fazer nada, a sua existência seria sempre aquela monotonia apaisanada, sem momentos.
desisti. aquele objecto de estudo não era o meu objecto, era o objecto de ninguém. e foi assim que o deixei, no crepúsculo, enquanto me cruzava com os passageiros, os transeuntes...
in Estação Fluvial de Belém
BellaMafia
(escrito em 2000, arranjado em 2006)
quarta-feira, novembro 08, 2006
Submissão
à coisa de uma semana... celebrou-se - provavelmente apenas entre os lobos maus do islamismo - o segundo aniversário da morte de Theo Van Gogh, que, se bem se recordam, foi assassinado por um manifesto aborto humano, de convicções religiosas distorcidas. lembro agora a curta-metragem "submissão" que, ao que tudo indica o terá submetido ao desígnio da morte. mas mais importante que isso lembra hoje o mesmo que "ontem", que vivemos num mundo subvertido por homens mascarados, cujo os ideais remetem a mulher a um papel de adorno e por conseguinte superflúo, descartável, inútil... ok! paro por aqui.
aproveito o contexto para assinalar a magnífica celebração da festa "cartooniana" em Teerão, onde se elegeram os melhores cartoons alusivos à descriminação judaica e ao flagelo "encenado" do holocausto... ora viva a dualidade de critérios! viva a liberdade de expressão.
BellaMafia
aproveito o contexto para assinalar a magnífica celebração da festa "cartooniana" em Teerão, onde se elegeram os melhores cartoons alusivos à descriminação judaica e ao flagelo "encenado" do holocausto... ora viva a dualidade de critérios! viva a liberdade de expressão.
BellaMafia
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