sexta-feira, junho 02, 2006

Golpe de teatro

atravesso o umbral da velha porta do drama, as luzes tocam na sala quais dedos de sol, subtraindo à sala vazia o domínio das sombras, vestindo o espaço despido de presença.
não estranho a ausência humana... o espéctaculo foi tristemente alienado pelas audiências do pseudismo cultural. preencho cada cadeira abandonada com um pensamento na esperança de ver devolvido o investimento.
sento-me. estou emparelhada pelo vazio, à esquerda imagino-o de expressão carregada, pensativa como que a perscrutar um folílio com o exórdio da peça. à direita acompanha-me um vazio boémio. descontraído na pose como na vida, sem esperanças por simples falta de consciência, aguarda o iniciar da peça, como espera pelo iniciar da sua própria vida.
fecho os olhos. já não resta muito tempo, ele rouba-me os minutos. reabro os olhos e vejo as luzes a esmorecerem, o meu coração acelera, ouço as pancadas na velha madeira do palco plagiante da vida e sinto o remexer das cortinas qual composição musical. elevam-se e com elas elevo-me eu. acabou o sonho, começa o drama e sem sentir tristeza pela perda, invisto num novo sonho e parto.

BellaMafia

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