sexta-feira, novembro 14, 2008

INEnteligível

é tudo uma questão de retórica. num país de brandos costumes e mentalidade ociosa há que saber servir a actividade neural com os axónios correctos... bem neste caso chamemos-lhes alegóricos.
existem 3 razões para não acompanharmos, ou "escaparmos", à recessão europeia, passo a explicar:

1. é difícil entrar num estado físico, quando psicologicamente já se coexiste com ele, na realidade não se entra apenas se oficializa! por isso, parafraseando o Diário Económico, "escapar à recessão europeia" é um pãozinho sem sal, seria preferível dizer que a Europa é que mais uma vez nos escapou.

2. as estatísticas demonstram que 72,3% dos portugueses, com idades compreendidas entre os x e os y anos acreditam que se escreve resseção e não recessão, ou seja, escapa à maior parte dos xys o fundamento!

3. jamais (carregado e sucinto, como uma ordem a um cão) Portugal poderia estar envolvido com qualquer discurso envolvido com o léxico "negativo". o nosso mais-que-tudo - governo - não permitiria. crescimento negativo? jamais, agora decrescimento positivo, aí a conversa é outra. Vá lá explicar isto aos leitores do Destak, Metro, Meia-Hora e afins... sem querer ferir susceptibilidades! de quem? da resseção, claro!


BellaMafia

quarta-feira, novembro 05, 2008

Yes We Can

não, não era o meu candidato preferido. derrotou aquela que eu previa como futura primeira presidente dos EUA, e talvez por essa razão tenha guardado deste Janeiro deste ano algum ressentimento ao ex-senador, agora presidente, Barack Obama, ressentimento esse bem alimentado por uma angústia capaz de relevar pressupostos políticos dúbios e histórias pessoais questionáveis, e defender um projecto caducado pelo sacramento da insuspeição.
não, não era o meu candidato preferido... talvez por personificar a sedução. tudo em Barack é perfeito, a tez - não é branco nem preto, é benetton - o discurso eloquente, quase me atrevo a dizer kennediano, a pose humilde, sem a presença arrogante de quem vence... e a eterna confirmação do american dream.
agora, sob o manto da verdade, reconheço nos meus sentimentos um misto de alívio e emoção, já posso despachar a demagogia política e festejar a assunção de um sonho. odiei e continuo a odiar toda a máquina propagandista que rodeou Barack, odiei Oprah e os inúmeros apoiantes que ameaçaram conspurcar a veracidade de uma postura sustentada na honestidade. hoje assumo que seria irreal exigir que Barack chegasse ao destino sem todos estes mecanismos perversos.

creio na política, mas creio mais na vida e Barack é um daqueles longos arrepios que nos percorrem a espinha e nos fazem ter esperança no futuro, com uma lágrima perfeita no canto do olho.
à 7 anos chorei após um ataque ao âmago do sonho ocidental, hoje choro com o reerguer desse sonho na pessoa do futuro presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama.

"Se ainda há alguém que duvida que a América é o lugar onde todas as coisas são possíveis, que questiona se o sonho dos nossos fundadores ainda está vivo, que duvida do poder da nossa democracia, teve esta noite a sua resposta".
in victory speech, by Barack Ussein Obama


BellaMafia

sexta-feira, outubro 24, 2008

Pink Maggit

“I’ll stick you a little, enough to take your oxygen away…”

é uma balada. um romance negro que se escreve em amargura. num quarto qualquer, uma voz embargada, carregada pela sofreguidão dos actos, apaga os resquícios de luz, ao som, frio, das cordas metálicas que os dedos acordaram.
não se existe naquele quarto, é somente uma dimensão que a dor criou, na esperança de ver crescer uma consciência diferente.

“…I might loose her so forget about me…”



o grito da guitarra subsiste sob o eco da solidão… até ao abrir abrupto da mente encarcerada no desgosto. a voz, aquela voz de sedução sinistra, transfigura-se ao som de uma percussão arrivista que sem tempo, ou lugar, procura a redenção.
o ritmo, antes perdido na síncope do momento, faz regressar a luz perdida, sob uma nova existência orgásmica, sem a empatia disforme do sofrimento.

“…all you are, all you are…”

BellaMafia

Pink Maggit, in White Pony by Deftones (aconselho a ler ao som da música)

terça-feira, outubro 07, 2008

(Re) Encontro

fez ontem 10 anos sobre o primeiro encontro académico realizado na UM, celebrei - alertada pelo sempre bem informado Peter Pan - esta data, no aconchego da solidão benquista, lugar único que me permite num volteio vaguear pela paisagem que a janela do tempo exibe. qual ficção científica vejo passar ao sabor do vento folhas de imagens, episódios de uma novela da vida real... vejo as folhas tomarem a dimensão física daqueles que mais do que um percurso académico me deram história.
entre amiguinhos, agora na região das laranjas, e personagens do folclore animado - Peter Pan, Rita Catita, Soneca - passando pelas referências ao gaulês Asterix (Paulix) ou ás características artísticas e geográficas... respectivamente representadas pelo mestre Cesariny e os dignitários da Caranguejeira e Palmeiria, o congresso de intérpretes culmina no romance quase histórico entre um Diniz e uma Maceira(s)... os episódios são incontáveis, ao nível de um enredo mexicano-venezuelano cujo final, apesar de alinhavado muitas vezes, ainda se encontra por definir.
resta-me no entretanto a memória das tardes de conversa, intervalos de UNO, viagens pelo Cercal, Palmeiria e arredores... enfim, os passeios rotineiros de comboio pela Costa do Sol enquanto testemunha do eterno casamento entre o sol e o horizonte.
deste meu lugar inóspito, sem sinais de ressentimento ou impureza, com a lucidez de um fado traçado, agradeço aos chaperones desta jornada e digo: até já!

BellaMafia

segunda-feira, outubro 06, 2008

Ramadão e razão

A propósito disto:

não é uma preocupação recente, de facto é quase tão antiga quanto a preconizada queda do capitalismo sobre a mão dos súbditos de Alah.
o recente período do Ramadão veio confirmar uma vez mais os índices de crescimento de população muçulmana na Europa. certos indivíduos de mente excessivamente aberta, tendem a justificar esta migração de mentalidade com o argumento da cognição, a aquisição de conhecimento (que conhecimento pergunto eu!), passo a explicar: a aproximação dos povos deve ser feita através da empatia, esta, neste caso, manifesta-se sob a forma de adopção dos princípios religiosos. ora eu, que nunca fui muito de empatias, talvez por ter uma mente fechada (para evitar estar exposta a viroses comportamentais), justifico esta mutação com o medo.
sinto o medo crescer entre a população ocidental, ao ponto de se contrariar a tendência natural de caminharmos rumo ao agnosticismo e aderirmos a causas de cariz medieval... é a velha conversa do se não podes vencê-los junta-te a eles mesmo que isso signifique o retrocesso da civilização ocidental.
sou adepta do liberalismo, cada um deve ser livre de ser, mas suspeito sempre de actos que são contra-natura e que gritam socorro a cada gesto.
para quando a imposição de uma indumentária para as mulheres, de um código de conduta, da ascensão dos homens à sua posição de machos dominantes. por Alah espero não estar cá para ver.

BellaMafia

terça-feira, agosto 26, 2008

O "fabuloso" caso da descrença

a natureza humana é de desconfiança. é natural ou artificial – deixo isso para os iluminados – olharmos com cepticismo para o que a vida, o tempo, nos traz. eu não questiono que assim o seja. a questão reside na legitimidade da descrença… enquanto uns perseguem a verdade científica qual jornada pelo Santo Graal, outros preferem mobilizar-se no sentido do ostracismo da crença. tenho inveja de quem crê, crer é sonhar e acreditar no sonho, eu não creio e choro-o. vivo no espectro da razão e da lógica, do “real” e não entendo – ou não quero entender – aqueles que fazem da propaganda contra a fé um rumo, é como marchar contra um sonho com o intuito de o matar… e o mundo anda ao desalento.
não entendo porque se há-de rebater a existência, sem verdades absolutas, só porque. não entendo a sofreguidão por uma vida sem utopias para viver somente da realidade científica. é um vazio! é cru e cruel… cruel como o incentivo à descrença.
não há Deus! não há vida! não há futuro apenas presente... o que existirá de facto? Creio que nada…enfim.

BellaMafia

quinta-feira, agosto 21, 2008

17,67 metros

foi com esta marca que Nelson Évora rasgou um sorriso no semblante, carregado, português… não vi o feito, segui de forma obsessiva os diálogos que iam circulando, in tempus, num fórum dedicado. no entanto, gosto de imaginar rostos apontados aos ecrãs a jubilar com a vitória depois do suspense, os auriculares encostados a escutar o relato de uma façanha capaz de unir dois países separados por milhares de quilómetros, e, acima de tudo, sentir no gesto de Nelson mais do que um salto, uma afirmação: sou Português e sou Campeão!

parabéns!

BellaMafia

p.s. apesar de ser natural da Costa do Marfim, Nelson Évora é mais português que muitos.

terça-feira, agosto 19, 2008

JO

Jogos Olímpicos ou Jogos Oníricos?

não é surpresa para qualquer concidadão o fracasso da Selecção Olímpica Portuguesa, imagem essa que nem a etérea Vanessa Fernandes (medalha de prata no Triatlo) consegue disfarçar, reflectindo-se o mesmo na celebração disléxica que se seguiu ao feito da jovem atleta, ao dizer que a medalha de prata era valia mais que a de ouro... inquiri o que é que a rapariga andaria a tomar com leite? a resposta descobri no não menos surpreendente discurso, do alucinatório Laurentino Dias ao descrever o "feito de Vanessa" como "um doping natural e positivo” hmmm… daí natural a confusão de Vanessa - com sorte ainda retiram a medalha de valor superior ao ouro à jovem atleta.

mas como eu dizia não é surpresa nenhuma as exibições antagónicas de sucesso da tão apregoada maior comitiva de sempre a participar nos Jogos Olímpicos, porquê? ora porque são propositadas.
antes de mais é preciso compreender que somos um país de enorme sentimento social, valorizamos acima de qualquer conquista olímpica a integração social daqueles que por qualquer deficiência não podem interagir naturalmente com a sociedade. o que é que isto tem a ver com o propositado falhanço dos atletas portugueses? bem, digamos que na ausência de fundos sociais para apoiar estes deficientes encontrou-se uma solução económica pontual - condicionada pelo acontecimento bissexto - mas de enorme exponente psicológico, estou a falar das Paraolimpíadas. como é que se podia dar valor ás conquistas paraolímpicas se os atletas olímpicos cumprissem os seus desígnios? seria empolar a natural falta de objectivos desses atletas com deficiência... pelo menos de acordo com o Director do Laboratório de Análise e Dopagem de Lisboa, Luís Horta, que diz: "que os atletas paraolímpicos têm as mesmas motivações que os atletas olímpicos mas muitas vezes têm muito menos objectivos na vida". ora nem o Diabo teria dito melhor.

assim se percebe o porquê da medalha de prata/platina da Vanessa (foi o pior que ela conseguiu!) e a falta de outras medalhas no nosso expectante pobre palmarés... é preciso, acima de tudo, valorizar e objectivar a comunidade deficiente de Portugal.

há que se saber esperar pelas verdadeiras Olimpíadas... a.k.a Paraolimpíadas.

BellaMafia

segunda-feira, agosto 11, 2008

RIP Willy (de 11.Out.97 a 10.Ago.08)


espreitas pela porta tímido
e procuras o olhar de quem chama.
arriscas um pequeno ruído,
um bom dia, um pedido contido,
na certeza do retorno
de um carinho de quem ama.

hoje, na solidão do estar,
sou eu quem atravessa o umbral
quem indaga pela brandura do teu olhar,
procura que o destino devolve
sob a forma de um vazio sepulcral.


numa tarde de Verão foste...
numa tarde de Verão ficaste.

BellaMafia


“Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas do Amor se eternizassem.”

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, agosto 01, 2008

A propósito de...

ontem, depois de assistir à verborreia do nosso PR, assomou-se-me um pensamento: seria o comunicado do Presidente um anúnico da Rede 4? fiquei em suspenso a assistir ao endossar léxico do nosso mais alto comandante na esperança de o ver terminar com um "falar caro não faz sentido"... mas tal não aconteceu, aconteceu sim a abordagem de alguém que comigo assistia ao bendito, a solicitar uma tradução ao que acabara de ouvir - hmmm não sei como classificar aquele momento, apenas me vem à memória a imagem de um cartoon japonês com uma gota ao lado da cabeça e os olhos em cruz.
de facto se o objectivo de Cavaco Silva era dar uma nova dimensão ao ditado "para grande entendedor meia palavra basta" ele alcançou mais uma vitória, pois ao acordo ortográfico podemos agora juntar a reforma dos ditado nacionais, com a introdução da primeira alteração a esse código cultural: "para meio entendedor, grandes palavras bastam".

ó messa.

BellaMafia

sexta-feira, julho 11, 2008

Ecologia Mental

vivemos hoje num estado hipocondríaco, está tudo mal... o país está mal, a conjuntura é má, a saúde é péssima, a educação de bradar aos céus, a agricultura inqualificável, o esposo/a irritantemente presente, os filhos impertinentes e mal-educados, os carros bebem demais e o dinheiro peca por escasso… enfim a eterna realidade portuguesa, o lado depressivo de um estar bipolar que cada vez menos se excita. só encontro uma solução… resmas, paletes de fluoxetina.

Ámen.

BellaMafia

segunda-feira, julho 07, 2008

O Tio Patinhas

apesar de toda uma legião de adeptos e fângios, a existência de Tio Patinhas tem mais substância que a retratada pelos livros de banda-desenhada infanto-juvenis... uma adaptação infeliz - tem que se assumir - senão pela personagem tipo Dona Branca à espera do quinhão, pelo menos pela ignorante associação a um ícone da psicologia de bolso como o psico-pato, vulgo Patinho Feio.


Tio Patinhas era um indivíduo patologicamente bucólico, apreciador de um bom vinho - Quinta do Pato -, mas de personalidade complexa. cónego de nascença sempre primou pela vulgarização do dinheiro e da actividade social, diz-se pelo burgo que o nome Tio derivou exactamente das suas actividades de playboy cascaense. reservo aqui o direito de clamar veritá pela boca do povo.
pois Patinhas, era o membro mais avesso da real família Patino, sendo herdeiro de sangue nobre, cedo demonstrou as suas habilidades de pato-mudo*, situação quase herética no seio. não foi com surpresa que observou, no colégio, o seu nome converter-se de Patino, para Patinho e mais tarde de Patinho para Patinhas - um caso ainda hoje por esclarecer mas do qual se pode subtrair a existência de um vestido e alguma maquilhagem.
apesar da desfiguração do título familiar, o Tio era un bon vivant, gostava de festas e romarias… não era estranho vê-lo na Capital, Lux e afins sempre de calça branca, com uma dobra de 2 cm e meio no fundo, e uma camisa preta com botões madrepérola desmesuradamente aberta para exibir a sua cobra de platina. era um personagem, sem dúvida. mas a substância deste avesso Patino, derivou das suas aventuras errantes, diz-se que dormiu em todos os hotéis da vila e mais além, isto apesar da existência de uma fabulosa penthouse nas Torres Bazonas de Sete Rios, sempre com companhias diversas e número superior ao par… Patinhas era o nome na lama da família nobre de Cascais, mas o mais benquisto pela sociedade cor-de-rosa… e talvez por isso o seu assassinato tenha, até hoje, suscitado mais interesse que o assassínio de JFK, Diana de Gales ou da Floribela.
aquele que mitigava o pudor, seria desde então exarado por uns (aqueles que lhe desejavam a morte: a.k.a. família) de patinho da Playboy, Hugh Hefner português, o homem das mil mulheres… um sociopata. e por outros, família do povo e afins do Conde Castelo Branco, um amorrrrrr de pessoa.
a verdade é que até hoje ninguém sabe os verdadeiros contornos deste caso tão patinhado, ao ponto de existirem tentativas de subversão do nome Tio Patinhas ao mundo da ficção infantil, a famosa personagem do pato milionário exaurido da folia e dedicado ao celibato através do casamento, não com a religião, mas com uma qualquer caixa forte de Patopólis.

a história não lhe fez justiça, Tio Patinhas (nascido para o mundo como Baltazar Fiasco de Mello Freire e Patino) era e sempre será um ícone da sociedade do coito festivo.

* indivíduo que em assembleia não faz uso da palavra.

BellaMafia

terça-feira, junho 24, 2008

Psicopatia

Jornalista é preso por crimes sobre os quais escrevia na Macedônia in Folha Online

não são muitas as notícias que me encaminham à divagação, no entanto encontrei-me nesse pathos ao ler esta nova.
o seu quase cinematográfico enredo - à memória gritam nomes como Zodiac ou Se7en - e contornos de excentricidade, levaram-me a questionar a origem do criminoso macedónio, ora um individuo de mente tão fértil e hollydowesca não podia ser sem um qualquer temperamento norte-americano, afinal essa gente (entenda-se psicopatas) só mora do outro lado do Atlântico.
diz quem sabe (digo eu) que a psicopatia nasceu de um pato, que não era pato na realidade, mas antes um mero fenómeno de adopção por uma família de patos, na realidade esse pato - feio ao que parece - era um cisne, uma raça de aves benquista pelos lagos mas malquista pela comunidade patal.
ora "o pato" residia algures no Lago Michigan, antes do aparecimento das descargas municipais, com a sua patética família, que não obstante a sua fealdade olhava para ele como um igual na tentativa de regenerar a sua condição social (um típico elephant man). era quase normal sentir-se embicado pelos demais patos da sociedade, não sabendo porém que um alter-ego se moldava com formas de vendetta... era o psico-pato.
a descoberta da psicopatia acabou por surgir após um encontro de contornos traumáticos para qualquer ave, "o pato", individuo conformado com o seu estatuto outcast, encontra por obra do acaso, num lugar recôndito do virgem lago, uns "patos" seus semelhantes, altivos e elegantes. mas "o pato" não via elegância, via deformidade, não via pureza mas antes conspurcação, e no seu peito de pato (sem laranja) apertava-se o sentimento de ultraje: a culpa era daqueles seres anómalos que o fizeram ser diferente da sua mãe, e num ápice o alter-ego até então bem alimentado pela inoperância psicológica dos patos doutos, suprime "o pato" e lança o psico-pato numa espiral de violência, terminada apenas com a chegada dos três patinhas. inúmeros cisnes foram mortos, sempre através do mesmo modus operandis, com um calculismo nunca visto por aquelas terras patéticas.
mais tarde, nas suas memórias, "o pato", nome de guerra "patinho feio", viria a descrever todas as suas patologias e até hoje fica para a história o nome da sua esposa querida, conhecida por uns como morte, para ele apenas psicopatia.

BellaMafia

sexta-feira, maio 30, 2008

Crianças Especiais

hoje sentei-me a pensar no Portugal infante, pobre "casta" que padece de um mal recém-descoberto, o “aumento exponencial de docentes” da primária para o 1º ciclo.

ao que parece foi denunciado que os nossos descendentes menores vivem atormentados com esse “aumento exponencial de docentes” que os espera após a travessia da ponte para o 1º ciclo. é terrível, doloroso, anti pedagógico, um choque social, uma criança passar a ter vários formadores ao invés do prático uno que os acompanhou pela fase primária, no entanto, essa delação sofre de falta de continuidade, isto porque, as mesmas indefesas, imberbes e pueris imagens de uma sociedade menor conseguem resistir ás suas insuficiências e dotar-se com a capacidade de conviverem com artifícios como os telemóveis, computadores, consolas de jogos, entre outros gadgets, criados à consideração (a maior parte deles) de uma “casta” adulta.
não compreendo a incongruência. não compreendo a necessidade de continuar a criar subterfúgios e facilitismos para ocultar a inabilidade de resolver uma mentalidade ociosa, desmoralizada e acima de tudo descrente nas suas potencialidades.
a história da educação diz-me que existem décadas de discentes educados sobre a égide da regulamentação actual, hoje cidadãos formados.
no entanto a reforma da educação passa pela reformulação de um conceito já consolidado, de uma primeira etapa de crescimento… a sina portuguesa de inventar em vez de emendar.

a discência infantil é hoje, ao que parece, uma realidade atroz.

BellaMafia

segunda-feira, maio 19, 2008

Sonhar muçulmano

estava deitada, inerte naquele manto de alcatrão molhado, à minha volta uma multidão transtornada procurava fazer do meu amor "infiel" uma lição para qualquer mulher, que como eu, ousasse amar outra pessoa que não a prometida. estava deitada, prostrada à vergonha da minha cultura, ou à falta dela. nos rostos daqueles juízes sem tribuna estava vincado o horror, a repulsa por ver uma filha do islão conspurcada pela natureza humana.
eu sabia o que a vida me reservara, a pena do meu amor era
ódio, violência... e enfim a morte.
Não se demoraram os pontapés no ventre e as pedras no corpo, gestos carregados de infâmia acompanhados de palavras cuspidas de ignomínia profunda, já não era mais do que aquilo que o nascimento me destinara... um objecto.
Dançava, agora, pelo chão qual ignota de uma sociedade sem castas, a dor física já só existia num lugar remoto da minha consciência, os meus olhos, vigias do castigo imoral, fechavam-se a cada penitência até que a exaustão acabou por conduzi-los aos pés empoeirados de uma menina, uma imagem igual à minha, o semblante da ignorância de quem não sabe o que é e o que será.
a morte chegaria em breve, via-a nos olhos da criança e sentia-a no âmago. foi naquele instante de regresso ao tumulto que vi a pedra no meu encalço, a última mensagem criteriosa, a última imagem de um mundo que não me viu nascer e não me iria ver morrer.

em homenagem a todas as mulheres que perecem pela a mão dos verdadeiros infiéis.
com tristeza e vergonha,
BellaMafia

segunda-feira, abril 21, 2008

Memoirs

observo pela janela do meu quarto um sonho, criado entre reflexos e efeitos de luz criados pela aurora, no horizonte está uma ponte, o último portal do rio antes de acabar a jornada no oceano. a foz está pintada em tons de laranja e rosa, qual quadro de Monet. pela primeira vez observo o meu rosto entre o coito de reflexos e luz, a imagem que me chega é a de uma criança de 12 anos, de franja e cabelo cortado a direito, um rosto pintado com a inocência da idade, sublinhada pelo olhar sonhador dos verdes anos. os lábios, de um vermelho apenas possível por contraponto à tez dramaticamente branca, cantam palavras arrepiantemente familiares... clamam estas, um canto a infindáveis viagens entre Miramar e a cidade do Porto: here comes Oporto, hello Arrábida Bridge, good morning Campo Alegre, i'm comin' in.
o rosto afasta-se da janela, como que se apercebendo da solidão residente na sala, nela moram apenas sombras projectadas pelo surreal pôr-do-sol sobre meia dúzia de cadeiras. a voz de José Rodrigues dos Santos escarnece o silêncio quase poético, com mais um telejornal das oito, a criança, aquela imagem de mim na bênção da ignorância dança agora com os olhos pela sala à procura de algo que nunca encontrará... companhia.
com a clareza de um qualquer fenómeno natural, os olhos param de dançar pela divisão e estreitam-se novamente no horizonte, o sol já mal revela a sua forma. a pequena figura de mulher eleva-se da cadeira e faz dela um par, o resultado daquele gesto quase maquinal é um pequeno leito, sobre ele e ao ritmo dos últimos minutos de luz, os olhos da inocência fecham-se, com a imagem da silhueta da senhora da Arrábida, a ponte dos sonhos.
fecho os olhos e sinto-os húmidos, um vestígio desse sentimento escorre pela cútis, na janela do meu quarto já só está o meu reflexo e a saudade de ser criança, de ser inocente.
nasce um dia, morre um sonho.

BellaMafia

quinta-feira, abril 10, 2008

Shhh...

silêncio,
porque não falas?

sussurra-me algo...
estranho fidalgo
afónico.
és um gesto de mundo
sem consciência.
silêncio profundo,
qual doença.
abraça a vida incauta
e revela na pauta
a tua presença.
silêncio...
canto de ausência,
prosa infiel.
dá-me um momento,
tormento,
e afasta o teu mal.

BellaMafia

segunda-feira, março 31, 2008

És saudade

corres... com os olhos postos no horizonte,
rezas para que o destino não te encontre.
foges e choras pelas desculpas sem dono
mas vertes lágrimas de culpa pelo abandono.
corres, conduzido pelo som da liberdade...
na mente está um pesadelo feito realidade.


corres, foges, perdes e recuperas o fôlego,
sabes que naquela linha longínqua há algo,
um vislumbre, um perfil do semblante de fama
ou um enredo sem sujeitos, apenas uma chama.
a verdade chama pela voz de um sussurro mudo
ele vive na tua mente, que do nada fez tudo.

que nenhum obstáculo se interponha à vontade
que nenhum sentimento te esconda a verdade
corre, foge, és maior que o mundo, és saudade.

BellaMafia

segunda-feira, março 24, 2008

Harry Potter

num presente confuso, adulado por falsas promessas, angustiado pela a falta de visão do rumo traçado, é natural agarrarmo-nos à ficção - e conquando o sobrenatural - inocente e complacente com os nossos desejos.
encontrei recentemente a minha câmara dos desejos sob a forma do último e fabuloso livro de J.K.Rowling, venerado pelo nome de Harry Potter and the Deathly Hallows.
o título não favorece o livro... é indiciador de falta de maturidade e convenhamos suspeito quanto à qualidade literária, mas esta obra é uma ode à ficção mágica, converge em todos os momentos com a ausência da realidade, transportando-nos para um mundo tão distante quanto desejado. A criatividade brota a par do entusiasmo. é inebriante a forma como a autora nos conduz, sob um ritmo elevadíssimo e uma qualidade constante, ao longo de 600 páginas.
a minha ausência deste mundo, de fantasia lírica, foi saciada, senti-me de novo jovem, cheia de sonhos e ilusões, e apenas lamentei o fim da experiência. J.K. Rowling encontrou na pena o veículo para a minha felicidade e fidelidade, jamais a esquecerei, jamais esquecerei Harry Potter o jovem feiticeiro nascido para o mundo dos mortais à 11 anos. a prova de que uma personagem pode ser maior que o mundo.

BellaMafia

http://en.wikipedia.org/wiki/Harry_Potter

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Crescer

pediram-te para crescer, tu anuiste com displicência, pensavas que o acto era natural e como qualquer momento da tua breve vida ele viria ter contigo. esperaste - e sem saberes ainda esperas - que a tua empresa se realizasse, até que na ausência de um sinal aquele que tinhas por "teu" mundo, hermético, impenetrável, começou a cobrar-te a promessa... a tua mente, ou o orgulho disfarçado, dizia-te que crescer era absurdo, porquê crescer se crescida já o eras?...a ambivalência entre a realidade e o pensamento acentuou-se, ao ponto de conflito.
agora andas perdida. tudo o que pensavas saber afinal não era e choras-te pela falta de rumo que pauta a tua vida... é desesperante.
tentas encontrar algo que te identifique naqueles que te rodeiam, aqueles que pela ordem da vida reconhecem o teu ser, pela convivência, pelo amor... aqueles que te chamam pelo nome próprio. mas deveras perguntas-te quem são, o que sabem, o que QUEREM?
ao invés cresce em ti a solidão, observas o nada com nostalgia, falta a ignorância, sabes? ela era a redoma que te protegia da verdade, da consciência, da responsabilidade... enfim do mundo.
continuam à espera que cresças, mesmo sob a ignorância da tua presença e do teu conflituoso relacionamento com o alter-ego. já não és a mesma pessoa, não és o mesmo discurso, não és a mesma pose, o mesmo carinho... sentem a tua perdição com a dor do aviso, ignoram a tua solidão pela omissão dramática que o teu corpo evoca, mas querem-te... como querem que cresças.
cresce criança... cresce e regressa ao teu sito.

to B.

BellaMafia

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Acordes

agito as mãos em gesto de descompressão, junto os dedos da mão direita aos pares da mão esquerda, falange com falange, estalo-os. fecho as mãos em punho, os nós ficam brancos até me soltar de novo.
pego na minha guitarra acústica Fender, negra - qual Johnny Cash - sinto-lhe as curvas, a madeira macia envernizada. olho para as tarachas cromadas, quais espelhos de um desejo e depois as cordas de bronze, passo suavemente o indicador pela primeira corda e faço-o deslizar... sinto a textura metálica sibilar pela divisão e pelo meu âmago.
agarro com a mão esquerda o braço da guitarra e abraço o seu corpo ao meu... somos um. coloco os meus sentidos sobre as cordas e pressiono-as contra a matéria, agarro a palheta e deixo-a cair sobre as cordas estranguladas por uns dedos agora desinibidos, numa dança cumplíce.
soltam-se os acordes.

BellaMafia

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Sonhar... o novo imposto

digo, não raras vezes, que sonhar não paga imposto. infelizmente, a vida e a verdade, um par de casamento difícil, têm-me exposto outras faces do pesadelo imposto. ele já não reside somente na forma de "papão" físico, exibe-se hoje o parasita como um obstáculo de proporcões crónicas à criação. já não consigo sonhar sem pensar no instante que me cobrará o acto...
levaram com a inocência o sonho, aquele que pelas palavras do póstumo Zeca Afonso, devia ser uma constante da vida. palavras sôfregas por subsistir na progressiva inconstância da vida de perdição, onde os benditos se compram com créditos fáceis - hipócritas - que singelamente conduzem a existência à descrença na instituição desejo.
vejo morrer lentamente uma parte de mim... vejo-a morrer ás mãos de uma sociedade sedenta, cega pela posse.
sonhar não paga imposto?
sonhar é a nova analogia ao crédito mal parado... ao juro e ao imposto.
enfim... como a morte, nada é tão certo.

BellaMafia