segunda-feira, novembro 27, 2006

voyeur assim...

ao vê-la adormecida, inerte nos sentidos,
recordei contos lidos de uma esquecida infância,
senti um aperto no peito, pela ignorância
de ver passar o tempo por meios indevidos.

é ao vê-la prostrada ao sono da idade
que me urge a saudade de a ver senhora das horas.
e perguntam-me, os que me veêm: "porque choras?"
- a luz do dia esvai-se sem demoras.
resto eu e a nostalgia, memórias de mocidade...

foi numa longa tarde soalheira, em tons de rosa-carmim,
que descobri este triste fado em mim.

BellaMafia

quinta-feira, novembro 23, 2006

Alguns póssamos e tanhamos hádem ser mais grandes que muitas outras coisas

é cada vez mais habitual encontrarmos novas formas de apresentação do léxico português. a criatividade lusitana, ao que parece, não se esgota na procura de artifícios para contornar leis ou parceiros, encontra sempre novos desafios... (nem vou questionar a validade dos mesmos. para quê?)pois deparou-se a língua portuguesa com um registo incomensurável de novos adeptos extremamente criativos e, porque não dizê-lo, sinistros. o objectivo - depreendo - será a transformação progressiva da nossa língua em mais um fantástico recorde do Guiness Book of Records, a marca a almejar é de língua mais complexa do mundo. o timing é perfeito, enquanto os russos se preocupam com a Tchetchénia e a Ucrânia, os chineses com a sua crescente economia e a gripe das aves, outros com assuntos mundanos como as armas nucleares, o efeito estufa, as energias renováveis, o aumento do petróleo... nós sub-repticiamente lá vamos conquistando o nosso lugar de incompreensíveis (literalmente).ora vejamos alguns casos:

póssamos: com origem no verbo poder, teve como base a sua derivação "possamos". como justificar a alteração? ao que parece a conjugação original era algo insípida, com falta de ritmo... os nosso caros conterrâneos, numa atitude quase minimal, adicionaram-lhe um acento transformando a palavra numa perfeita exdrúxula... fantástica intervenção, uma arte!alguns numa atitude considerada exacerbada, quiseram ainda resumi-la a uma formação simples: póssa-mos, sem dúvida alegórica mas ainda com parcos fundamentos para existir.
outros verbos estão a conciliar esta nova frente criativa e a aderir ás novas e alegóricas, conjugações.

hádem: esta derivação é sem dúvida a coroa de glória dos novos vocábulos, com base no verbo haver e na sua derivação "hão-de", várias foram as discussões entre as mais altas instâncias, no que concerne à língua portuguesa, e determinou-se a atribuição de uma conotação mais intelectual do que um mero latir de cão (hão) ao verbo. a pesquisa levou-nos à mitologia grega nomeadamente ao deus grego do inferno, Hades... um verbo com uma base histórica é uma raridade, logo, foi de comum acordo que se estabeleceu que esta nova conjugação traria não só suspiros de intelectualidade a um povo caracterizado pela sua incongruência, como seria uma obra dedicada à antiguidade. Hadém, "vai buscar!"

mais grande: este é um caso muito simples de minimalismo e facilidade de ensino, ora se já existe um adjectivo "grande", inclusive proveniente do latim grande, para quê estar a criar uma palavra para caracterizar algo de tamanho superior em relação ao que já é grande? esta questão levantada pelos novos senhores da nossa língua tem imensa propriedade. defende alguma nata da sociedade que "maior" por também ter bases no latim (maiore) é um adjectivo de valor equivalente ao grande, mas os novos "fidalgos-linguísticos" contrapõem que seria mais apropriado seguirmos uma linha germânica e atribuirmos mais sílabas ás palavras, i.e maisgrande ou mais-grande ao invés da simplicidade bacoca do "maior"; estas serão evoluções previsíveis do léxico português que por enquanto se mantém dividido entre o maior e mais grande.

após esta breve nota sobre os laivos criativos da nova génese portuguesa, espero ter contribuído para uma melhor relação com uma língua cada vez mais complexa na forma e na comprrehensione.

BellaMafia

terça-feira, novembro 14, 2006

Faz-me viajante e eu faço-te caminho

viva!, algo perdido e desencontrado de tão só e sóbrio. a sua respiração tímida, entrecortada por delinquentes perfumes de maresia, transportam-me, juíza, à compaixão pela santa pobreza, digna por auto-flagelo, da hipotética porta de entrada à terra de Santa Maria de Belém.
passam cacilheiros, transeuntes, gentes de bulício, por aquela estação de isolamento... sinto-me constrangida de tão só que se me apresenta a dignatária! quase tão obsoleta quanto o regime que a fez nascer.
cruzam-se comigo sobre a pressão da clepsidra laboral, sem despeito pela arquitectura, peões da Trafaria ou Porto Brandão. quem sabe ela seja tão indiferente de concludente, que nada representa, nada consubstancia?
rejeito a ideia de que tal arquitectura seja apenas a obra "apoética" de um combinado estatal; não foi também a Estação Fluvial de Alcântara vítima de um processo, em vaga, de melhoramentos das condições de trânsito?, conta ,no entanto, a mesma com o apadrinhar generoso de Almada Negreiros. porque não vivo eu a presença de alguém?, porque será esta estação tão fria?
promovo na minha mente a equação que levara o pretérito Arqº Frederico Cardoso de Carvalho, assim como ao confrade Engº Duarte Pacheco - senhorial ministro das obras públicas - a executar uma obra tão pouco pública. por que razão intenções tão camuflatárias teriam sido adoptadas num círculo de património tão concerne à nossa grandeza lusitana?
sento-me enquanto me distraio na congeminação dos factos... aquele telhado de duas águas, aquela pseudo-torre de ambições a faroleiras, à qual o tempo roubou o fardo; aquelas janelas de enclausura que absorvem a alma de tanto sufocarem a presença. retraio-me com um novo plot, talvez a ideia de tão célere projecto - como foi o habitar da costa com monumentos fluviais - se manifestasse pela experiência negativa do transeunte antes da viagem epopeica à realidade adjacente.

os cacilheiros passam, assim como as pessoas e o tempo, uns de destino a Lisboa, outras a menos ambicionadas viagens, nenhuma com este destino.

desisto da ideia de me transformar amorfa para agradar à condição da estação em estudo, liberto-me temporariamente da posição expectante e procuro a origem das sombras que tornavam o meu objecto tão na pas de quoi. à direita encontro o Museu da Electricidade, antiga central tejo, em tempos o locci mais iluminado de Olisipo, hoje um imponente edifício cuja erosão tem vencido com o brio da elegância britânica.
à esquerda avisto ao longe, quase que em horizonte de memória, o Padrão dos Descobrimentos, uma imagem irreal naquele displante de vazio arquitectónico. volto a questionar a razão da estação. começo a caminhar deixando em rasto segundos de afastamento daquele elemento fluvial tão dúbio, sinto-me envolvida pelas árvores, pela sombra que elas respiram, a batalha interior que me conduzia fugia-me em espiral... uma amnésia abençoada liberta-me da repressão ideológica e compreendo finalmente a origem daquela criação, a sua razão, o seu esquecimento em presença e vivência... eram as árvores, as árvores do olvidar, elas transformavam o espaço, elas cortavam os laços, a simbiose... escondiam o objecto da conjuntura urbana.
regressei num impulso à Estação Fluvial, ela ali estava, de fundo soava abafado, pelo som daquelas árvores quebrantes, o comboio, chamando passageiros em sofreguidão. eu associei no imediato aquela voz à condição da estação marítima... aquela rectidão, aquele desprezo pela agradabilidade, constrangeu-me. de repente apetecia-me mudá-la, pegar nos volumes funcionais e "afuncioná-los", construir uma barreira de criatividade e destruir a doutrina da opressão - a palavra ditadura assolou demasiadas vezes a minha mente. era isso que ela representava, uma súbdita de um idealismo ultrapassado e industrializado e eu não podia fazer nada, a sua existência seria sempre aquela monotonia apaisanada, sem momentos.
desisti. aquele objecto de estudo não era o meu objecto, era o objecto de ninguém. e foi assim que o deixei, no crepúsculo, enquanto me cruzava com os passageiros, os transeuntes...

in Estação Fluvial de Belém
BellaMafia
(escrito em 2000, arranjado em 2006)

quarta-feira, novembro 08, 2006

Submissão

à coisa de uma semana... celebrou-se - provavelmente apenas entre os lobos maus do islamismo - o segundo aniversário da morte de Theo Van Gogh, que, se bem se recordam, foi assassinado por um manifesto aborto humano, de convicções religiosas distorcidas. lembro agora a curta-metragem "submissão" que, ao que tudo indica o terá submetido ao desígnio da morte. mas mais importante que isso lembra hoje o mesmo que "ontem", que vivemos num mundo subvertido por homens mascarados, cujo os ideais remetem a mulher a um papel de adorno e por conseguinte superflúo, descartável, inútil... ok! paro por aqui.



aproveito o contexto para assinalar a magnífica celebração da festa "cartooniana" em Teerão, onde se elegeram os melhores cartoons alusivos à descriminação judaica e ao flagelo "encenado" do holocausto... ora viva a dualidade de critérios! viva a liberdade de expressão.

BellaMafia

quinta-feira, outubro 12, 2006

Perfect Sense, part I and II


The monkey sat on a pile of stones
And stared at the broken bone in his hand
And the stains of a Viennese quartet
Rang out across the land
The monkey looked up at the stars
And thought to himself
Memory is a stranger
History is for fools
And he cleaned his hands
In a pool of holy writing
Turned his back on the garden
And set out for the nearest town
Hold on hold on soldier
When you add it all up
The tears and the marrowbone
There's an ounce of gold
And an ounce of pride in each ledger
And the Germans killed the Jews
And the Jews killed the Arabs
And the Arabs killed the hostages
And that is the news
And is it any wonder
That the monkey's confused
He said Mama Mama
The President's a fool
Why do I have to keep reading
These technical manuals
And the joint chiefs of staff
And the brokers on Wall Street said
Don't make us laugh
You're a smart kid
Time is linear
Memory is a stranger
History is for fools
Man is a tool in the hands
Of the great God Almighty
And they gave him command
Of a nuclear submarine
And sent him back in search of
The Garden of Eden

(Can't you see it all makes perfect sense expressed in dollars and cents pounds shillings and pence...)

Roger Waters in Amused to Death


Ouçam, de preferência a versão live do album In the Flesh... fantástico.

BellaMafia

terça-feira, outubro 10, 2006

A Assimetria Mundial


... e assim acaba o sonho: adeus à pobreza, à fome, ao abandono, ao stress, à riqueza, à felicidade, ao trabalho, à responsabilidade, ao desejo, ao amor, à devoção, ao vício, ao romance, à poesia, à arquitectura, à arte, ao singular, ao plural, ao conceito, ao nome, à verdade e à mentira, adeus ao mundo e tudo mais...
ashes to ashes, dust to dust

BellaMafia

quarta-feira, setembro 27, 2006

Anoréxia Verbal

um dia disseram-me, em género de discurso mal compensado, que eu escrevia muito bem, tinha uma escrita articulada, com um cunho (penso se não teria o desígnio preferido punho) muito pessoal MAS... algo pesada. escrita algo pesada. pesada?
intrigou-me a classificação. intrigou-me de tal forma que tive que passar por três fases de embrutecimento:

primeiro:(sim vou seguir o discurso Paulo Portas) pensei se seria do lettering, afinal o fundo do blogue é preto, se calhar a combinação resulta algo pesada... hum... mas as letras são brancas, como as pombinhas da paz, sim paz, leve. Não, não era do lettering.

segundo: entrei num tipo de coma literário auto-induzido na esperança de encontrar uma qualquer tendência para escrever palavras com uma conotação pesada, tipo: pedragulho, haltéres, betão, quilos, "pesado"... hum... não, nada.

terceiro: pensei nos textos, questionei-me se eles seriam muito longos, com pouca pontuação, maçudos... e de facto dois / três enquadravam-se no capítulo da longa extensão, mas não na parca pontuação.

conclusão: escrevi um texto especialmente leve para todos os que classificam de pesada a minha escrita.

era uma vez uma pomba que voava sem rumo... hum... uma pomba é capaz de ser demasiado pesada. calma, outra vez.
era uma vez um canário que teimava com o horizonte que as suas cores eram as mais lindas... hum... continua a ter algum peso inerente. again.
era uma vez um passarinho, daqueles muito pequeninos, mas mesmo muito pequeninos, quase microscópicos, será que existem passarinhos-zinhos-inhos? bem não sei. é melhor desistir da ornitologia...hum...
era uma vez uma pena, sim uma mísera pena, que leve-levemente dançava ao sabor do vento...pois!, pois!, pois! o vento é forte, pesado, inexorável e se formos a ver a pena também deve ter uma graminha ou duas, dependendo da ave. certo!
pois então. era uma vez o nada, que por ser nada, nada sabia e como nada sabia, nada fazia e como nada fazia, nada faz... logo nada há para contar. querem algo mais leve que nada?

dedicado à minha irmã Ana. (apesar de isto ser algo pesado, não queria deixar de o mencionar)

BellaMafia

sábado, setembro 23, 2006

A Ideia maior que o Homem


"Remember , Remember the fifth of November, the gunpowder treason and plot. I know of no reason why the gunpowder treason should ever be forgot."

V for Vendetta, by Alan Moore

provavelmente este nome "V for Vendetta" ou "V de Vingança", como traduzem os meios de distribuição, conhecerão pela película que recentemente percorreu os teatros cinematográficos portugueses e hoje se exibe na estante de qualquer loja de aluguer ou venda de filmes.
a questão está em se viu o filme. a questão está em se leu o livro. porquê?

porque "V for Vendetta" é um hino ao idealismo, que tende a morrer na superficialidade da nossa sociedade. porque "V for Vendetta" é a dádiva da ambição que todos pecamos por escassa. porque dá-nos a utópica imagem da defesa de um paradigma, que é superior à corrupção da mente pelo Homem sedento de poder.

"V for Vendetta" reclama o nome de mito, o mito da ideia da sociedade livre, onde o povo não deve temer o governo, mas o governo temer o povo... porque nos introduz ao conceito da Ideia superior ao Homem, do imaterial sobre o material... do intemporal ao temporal.

ontem, hoje, amanhã morremos ou morreremos mas a Ideia sobrevive-nos.
e essa é a verdadeira lição, para aqueles que querem ser intemporais...

BellaMafia

p.s. não se limitem a ver o filme (que está brilhante) leiam o livro... é de lá que vem o sumo.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Depois de muito aguardado apresento-vos: Black 'n White

estava um calor de morte, os lençóis, depois de várias vezes repudiados, exibiam o desespero pela era glaciar, as portadas do quarto estavam cerradas protegendo-me da insegurança das janelas abertas, eu tentava solucionar a minha pseudo-insónia estrangulando a almofada e colocando-a em posições pouco ortodoxas, numa tentativa clara de descobrir a relação científica entre a almofada e o sono. enquanto me distraía, qual sonâmbula, com futilidades, extramuros - na rua - um plot desenrolava-se qual amores perros de Alejandro González Iñárritu, sem as lesbiandades... acordei contra-feita da residente pseudo-insónia, achava insultuoso que os meus pais se dispusessem a discutir em plena madrugada - 8 da manhã de sábado é madrugada, não vale a pena refutar - quais boémios da amarguinha, quando me consciencializei de que a discusão (para não dizer filme) vinha do exterior... vozes elevavam-se como se timbres disputassem o troféu de maior tenor do bairro - mal sabia eu que se disputava mais do que timbres. levantei-me da cama "descamada" e dirigi-me ao hall onde encontrei, quais voyeurs de uma janela indiscreta, a minha família em peso... num instante tentei almejar o bom senso pensando na indiscrição do acto, mas rapidamente calei a voz castrante e juntei-me à plateia. ok! apartir deste momento não tomo quaisquer responsabilidades pela narrativa, os dedos dançaram pelo teclado ao som da minha inconsciência.no exterior encontravam-se cerca de meia-dúzia de pessoas, discutiam violentamente e sem causa, nem efeito. o local era a conhecida "casa do Pai Natal bordeleiro", porquê este nome? digamos que a decoração natalícia foi favorável ao baptismo. as personagens em acção eram dignas de uma revista de Filipe La Féria. em primeiro plano, personagem principal, nomeado para melhor interpretação violenta num bairro dos subúrbios, estava um rapaz robusto, desnudado, revelando toda a pujança de um touro enraivecido, intimidando o ambiente, inclusive o pitbull. este possante rapaz, que por acaso também era de cor - preta, claro! - gritava cantos desinspirados (porque não dizer transpirados) à sua amada Black Pussy, rapariga caucasiana com ambições a ser de cor e com graves problemas de dissossiação de personalidade. bem... enquanto a dita Black Pussy rejeitava verbal e gestualmente a intervenção do Action Man (rapaz de cor possante), baptizando-o inclusive com uma panóplia de nomes pouco condignos do léxico português, mas certamente bastante coerentes na sua escola de vida, entra em cena "a mãe", mais conhecida por Stripper/Babbysitter - as origens do nome são confidenciais, mas suspeita-se que esteja relacionado com as actividades nocturnas da sujeito e do seu guarda-roupa. a Stripper/Babbysitter confrontada com o drama subjacente solta a sua voz gutural, presença assídua em todas as casas do bairro, e tenta incutir bom-senso ás duas figuras de um qualquer Romeu e Julieta de Bairro J. o seu companheiro, figura esguia, tipo tábua raza de prateleira com óculos, de nickname Wally, exibia o seu descontentamento transformando os seus olhos, normalmente redondos – quais dots de uma personagem de um filme animado da Manga – em dois traços horizontais carregados.
depois de várias tentativas falhadas de “injectar” bom-senso na querela, algo esperado pela plateia dada a condição pouco abonatória da Stripper/Babbysitter, avança Wally de olhar horizontal e profundo... aquela figura frágil de ossos salientes não demorou muito a regressar à condição de “Wally – o indivíduo que se imíscui na multidão”, pois mal avançou de peito cheio para o Action Man recebeu um estalo, do qual só acordou no chão.
entra em cena o “Empregado de Mesa Insuflado”, também conhecido por irmão de Black Pussy, ou primogénito de Stripper/Babbysitter, este que até então se limitava a observar o aparato residencial, como um espectador interessado num filme de acção hollywoodesco aguardando ansiosamente pela cena do bar de strippers, decide avançar em prol da família, fazendo esvoaçar a sua t-shirt de alças branca e exibindo o fulgor do seu volume muscular. o suspense aumentava, preparávamo-nos agora para observar um combate de pugilismo de pesos pesados – que mais não fosse pela envergadura física exibida pelos concorrentes -, a eterna batalha entre a luz e as trevas, o branco e o preto, a batalha do dia contra a noite... resultado: K.O ao primeiro round! o Empregado de Mesa Insuflado avançou com ímpeto (mas aparentemente sem argumentos) em direcção ao Action Man, com o intuito de afastar o touro enraivecido de Wally, mas mal entrou no circulo de acção do alfa[1] prostrou-se também ele no chão na companhia de Wally, após um valente gancho de direita e uma sucessão de pontapés abdominais. o Action Man espumava, o cão chorava e nós abriamos os olhos incrédulos à cena streefight versão portuguesa.
quando já nada fazia esperar mais que um tomar de posse de Action Man, como o eterno “gajo que reina no cubículo”, surge à porta uma figura de idade, frágil e desconhecida , presumo que não só ao possante rapaz de cor – preta, claro! – pensei se não teria todo este arrufo causado problemas de saúde à desconhecida avó, prostrada à porta... mas mais uma vez fui surpreendida, a senhora não era frágil, nem tinha qualquer problema de saúde, de facto ela parecia uma verdadeira Margaret Tatcher, em pleno domínio do parlamento. da sua boca não saíu qualquer voz gutural, ou cocktail de palavrões, muito comuns na “casa do Pai Natal bordeleiro”, mas um conjunto de palavras estranhamente coordenadas, para qualquer morador daquele antro! a MT (Margaret Tatcher, senhora de aparência frágil e de idade avançada) dirigiu-se ao Action Man e afirmou tão simplesmente: “o senhor (espantoso como ela conseguiu ver ali um senhor) está na minha casa, já discutiu com a minha neta (Black Pussy), já bateu no meu genro e no outro que acho que é meu neto mas não tenho bem a certeza (não contive uma risadinha!) e por fim acordou-me. Lamento imenso mas o circo acabou. Mal acabou a MT de proferir as quebrantes, mas de certa forma parcimoniais, palavras sai Wally de casa, local onde se tinha entretanto refugiado após o abardinanço anterior, mas não sai de lá sozinho, com ele vinha um enorme pau, eventualmente o único elemento da natureza capaz de rivalizar com o Action Man... Foi neste contexto, entre palavras de desprezo de MT, onde constavam acentuadas ameaças de contacto com a polícia, e o baloiçar do pau entre o céu e o chão com o rapaz possante no horizonte, que o Action Man abandonou o local, entre juras de amor a Black Pussy e ameaças de terror ao resto dos moradores com promessas de um regresso anunciado.
Nota: a tão esperada policia, encomendada por um vizinho incomodado, e a certo ponto do desplante, também ameaçado pelo Action Man, chegou meia-hora depois do jovem possante, de cor – preta, claro! - ter abandonado o local de peito nu e t-shirt na cabeça a lembrar o rapper “50 cêntimos”, herói americano que prega a imoralidade para alcançar sucesso!

BellaMafia

[1] Macho dominante numa matilha de lobos

domingo, setembro 03, 2006

Memento

Não nos uniu o tempo, unem-nos as palavras... fiz-me sócia desta premissa ao ler um memento, um memento ao Homem, ás vicissitudes, ao desejo indómito de apropriação ambiciosa de todos os condimentos da vida, igualável apenas ao seu falhanço. Pois foi neste memento que conheci o Sr. Horácio Domingues, meu Bisavô, perecido desde 1948... foi neste memento que vi mais que simples referências saudosistas e nostálgicas, encontrei o seu ego, aquele Eu tão sublime que só se revela pelas mãos de uma pena. Revelo hoje, em sua honra e especialmente dedicado a uma grande Senhora de nome Carmen Zilhão, esta carta a um mundo que tarda a corrigir pecados e a ouvir consciências...

BellaMafia


Memento, Homo...! por Horácio Domingues



As nossas mãos, trémulas e hesitantes, vão lentamente desfolhar, no caliginoso livro da nossa vida, mais uma página de mistério e de dúvida.
O enigma do dia de amanhã, angustiosa incognita que todos receamos desvendar, continua sendo a perturbadora interrogação que nos entenebrece a ilusória alegria com que pretendemos aturdir-nos, nas efusivas expansões da passagem do ano, num desafio grotesto às inescrutáveis sentenças do impenetrável Destino – esse eterno anónimo, como lhe chamou Compoamor.
E no breve decorrer desse minuto solene, trágico para uns, ditoso para outros, quantos almejados sonhos desfeitos ruiram com fragor no íntimo da cada um e quantas ambições, surdamente apetecidas, se transformaram em realidade venturosa, talvez de curta duração, porque na existência dos seres humanos tudo é efémero e vão!
Sorrisos de felicidade, exultações de júbilo, lágrimas amargas e angústias sem nome, tudo se transmuda e converte na pira mágica Tempo, que pode atear rútilos vulcões ou extinguir em cinzas a ligeira chama da Vida.
A vaidade, as aspirações de grandeza, ínfimos anelos que adejam na escuridão da nossa alma pervertida, suspendem o vôo tenebroso quando soa cá dentro de nós o dobrar lúgubre de mais um ano que morre.
A glória, essa fútil quimera que nos deslumbra e ofusca, ouvindo aquele soturno badalar da meia-noite, suspende os seus volteios fantasmagóricos, para recitar-nos os versos de Rostand

Ils y voudriaient vite leur place
Car bientôt ils seront défunts,
Mais la gloire, la gloire passe
Et n’en dore que quelques-uns.

O amor – centelha sublime que enobrece e escraviza a Humanidade, dúvida perene que lhe dá a torturante certeza do Engano – abre os braços jovens e fortes à Beleza, imagem translúcida e fugidia, gêmea do Desejo e, quando os fecha, só neles encontra, já sem vigor, a senil Velhice, fria e execranda como a Morte.
Longe do engenhoso ruído dos festins, cá fora, no silêncio da noite, as coisas vis da Natureza, os penhascos, os seixos, as areias dos caminhos, que talvez já foram firmamento nebuloso e lava ardente, para se associarem à gestação primária do Mundo e que, desde a formação da crosta terrestre, assistiram, caladas e impassíveis na sua materealidade, a todasas convulsões, silenciosamente comentam, com mudo desprezo, as preocupações do Homem, esse verme que se julga gigante e que conta aflitivamente as horas, não vão os vermelhos risos hilariantes fossilizarem-se em tristes pedras brancas de sepulcros.
O Tempo, alheio a todas as alegrias, a todas as dores e a todos os escarneos, imperturbavelmante vira a sua ampulheta de grãos de oiro e, indiferente, passa sem parar, na sua eterna e invariável ronda pelos Espaços rutilantes, galgando astros, à luz tremeluzente das estrelas.
E um ano novo começa, com os mesmos mistérios, com os mesmos enganos e com a mesma sórdida miséria, nas almas e nos corpos.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Teaser

estava um calor de morte, os lençóis, depois de várias vezes repudiados, exibiam o desespero pela era glaciar, as portadas do quarto estavam cerradas protegendo-me da insegurança das janelas abertas, eu tentava solucionar a minha pseudo-insónia estrangulando a almofada e colocando-a em posições pouco ortodoxas, numa tentativa clara de descobrir a relação científica entre a almofada e o sono. Enquanto me distraía, qual sonâmbula, com futilidades, extramuros - na rua - um plot desenrolava-se qual amores perros de Alejandro González Iñárritu, sem as lesbiandades...

brevemente num blog perto de si.

BellaMafia

terça-feira, julho 11, 2006

FWC

ouvem-se ecos pelas águas de cascais, as ninfas e tristãos titulares dos gruares festivos, espraiam-se desde a praía de carcavelos, passando pelo projecto de marina residente em cascais, acabando no isolado Bar do Guincho. reune-os um simples evento, o mundial de futebol. e por momentos , mesmos os mais cépticos à magia desse desporto de massas, desse bailado com bola, de homens de barba rija e camisola suada, se rendem ao abraçar das cores, que antagónicas no campo, se acopulam como complementares. os laranjas mecânicos com os verdes e vermelhos quinados, os azuis e brancos anglicanos com o amarelo IKEA, entre outras paletas de cores.
agora que acabaram os ecos, sobram as sombras daqueles que cantaram vitória ou choraram a derrota, mas acima de tudo procuro nessas sombras aqueles momentos que me dizem: para a próxima será nossa, next time it will be ours, la proche sera nôtre, esdrechen bit froki, 123 traduções pimpampum! porque eu também o digo, em surdina, para a próxima será nossa... a chama reacende-se e com elas as recordações conservadas nas sombras quais relíquias dos momentos extáticos e de desespero...
volta mundial, fugiste-nos, mas estás perdoado, volta...

BellaMafia

quarta-feira, junho 28, 2006

Sexy

estou no meio da pista, cores dançam agitadas à minha volta e embora emparelhada num invulgar número de pessoas, sinto aquele momento exclusivo... meu! a música envolve-me e sinto-o.
o meu corpo ausenta-se da minha mente, como um objecto autómato mexe-se hipnoticamente ao ritmo das batidas sexys que influem pelas minhas veias. o baixo marca os movimentos daquela presença estranha. danço como a rainha da sexualidade: mexe-se o ventre, as ancas deambulam da esquerda para a direita em movimentos circulatórios, as mãos desenham o meu perfil, como que esculpindo virtualmente o corpo insano, enquanto as roupas sufocam de atracção áquele ritmo louco, quase selvagem... e num momento, como que em slow motion observo a minha mente acopular-se ao meu corpo e uma sensação nevrótica estravassa por todos os meus poros, que de tão eléctricos emanam uma aura invisível aos que desconhecem o nirvana.
sinto-me livre, extática... deixo-me levar pelo som... e sinto-me sexy.

BellaMafia

À deriva pelas sombras de um concelho


estava a passear pelo paredão, diga-se para os que não estão familiarizados com o termo, que é a denominação que os cascaenses dedicam à via pedonal que se prolonga pela costa do sol, banhada pela rebentação das águas de Dezembro e iluminada pelo sol de Julho... mas como aferia, passeava eu pelo paredão, observando a estereoctomia do pavimento e imaginando quantas vidas teriam pisado o mesmo destino, quantas o teriam percorrido pelo instinto do atraso para um encontro, quantas teriam simplesmente dedicado a sua presença ao exercício do jogging ou do walking... quantas teriam, como eu, practicado a faculdade do percurso pelo simples prazer da observação da vida emanescente. apreciar o skyline da vila de Cascais, sentir a presença do turismo eclético a cruzar-se com o rudimentarismo, tão nosso, como poético.
caminhei sob a aura de uma nobreza pretérita, os senhores e fidalgos que em tempo tomavam este nosso encanto, como a folga elitista dos afortunados. suspirei mentalmente a evolução, hoje sou plebeia e digna de caminhar sobre aquele chão tão mais nobre que aqueles que se afirmavam ser.
avistei no horizonte os domínios que encerravam o concelho, não me preocupei com o desarranjo urbano, ou a carência de certos atributos dignos de um concelho como o de Cascais. olhei... simplemente olhei com olhos de ver, aconchegagada por um profundo sentimento de paz, respirei fundo para levar comigo um pouco mais daquele segredo e pensei: sim, isto é Cascais.

(crónica escrita para o novo site Cascaisonline.com)

BellaMafia

quarta-feira, junho 21, 2006

Hollywood

dizia-me um pseudo-conhecido: "há alguma dama ou cavalheiro que tenha a bondade de me auxiliar?", dizia-o de forma ritmada, como o glosar de um musical à mendigagem... mas começemos pelo princípio.
investia eu pelos eternos corredores e escadas rolantes do metropolitano da Baixa-Chiado, procurava o lugar que acedia à minha longa viagem para a nobre Alvalade. Encontrei-o tão despido de cor como de gente, vislumbrei a poucos metros, quase oculto pela escuridão das sombras, um homem cabisbaixo, brincava com o que parecia ser uma vara (tipo: estão a ver o Dr. House?, era antagónico!)... tive num instante receio pela solidão que nos unia. "eu só com um tarado de vara?" dizia aquele departamento sofrido da minha consciência, entre momentos de confiança exacerbada e teatral. abracei-me.
por motivos superiores à minha homo sapiens sapiens sapienidade a estação pareceu envolver-se numa escuridão, digna de uma ode à obscuridade... tentei convencer-me que o escuro, como o frio e tantas outras coisas estúpidas, era psicológico mas uma vez mais a minha consciência sofrida se manifestou. parecia uma cabala, a escuridão, a ausência humana, a dramatização do homem cabisbaixo de vara em punho... era o destino a dizer-me "baza-baza, vai p'ra casa-casa, abre a pestana-tana, qu'isto aqui não é um filme babe!" - ok a parte do babe não entra na música mas convenhamos que "boy" não se adequa à minha sexualidade!
um ruído estranho ao silêncio wes craveniano, soou e eu que permanecia inerte, freezed qual bloco de gelo branco, pálido (imaginando, claro!, a existência, ainda que rara, de cubos de gelo corados...) estremeci. seria o metro? ou o último, o derradeiro elemento do drama que me levaria à vitimização de um qualquer acto criminoso?
o ruído elevou-se e com ele fez-se luz... era o metro! estava salva!
apressei-me a entrar na barca da salvação, sentei-me naqueles bancos sujos e descascados como se fossem poltronas Divanni & Divanni... pensei quão acolhedor conseguia ser um velho metro, a presença de dezenas de desconhecidos, ser a agulha no palheiro.... hum, era de facto capaz de amar aquelas pessoas... aquele palheiro.
enquanto me enleava com estes pensamentos petrarquistas um bater irritante no chão teimava em assassinar a minha boa disposição. interrompi o meu estado etéreo e voltei-me para identificar o usurpador do momento, quando no meu raio de visão surgiu um homem hirto, de vara na mão e convicto... assustei-me de novo, estaria a ser perseguida? olhei com mais cuidado a personagem assustadora, à espera de identificar o meu quase-talvez-agressor, era alto, e tinha uma expressão estranha... não! ele não tinha uma expressão estranha, ele era cego! e no mesmo momento que a minha agora lívida consciência tomou conta do facto, o desconhecido fez-se ouvir: "há alguma dama ou cavalheiro que tenha a bondade de me auxiliar?"

BellaMafia

sábado, junho 17, 2006

Duas faces simbióticas

letárgico, sim! como um sono profundo, as pessoas, a vida, causas injustas... eu penso e fico com medo. nada é como parece, tudo é utópico, desconfiável.
julgamos e sofremos, eu sofro na tentativa de julgar correcta e imparcialmente... mas nada é como parece. vida cruel! olha-nos sem clemência - talvez demência - até nos questionarmos. quem sou eu? quem és tu? serei mesmo eu? serei eu outrém? ou NINGUÉM...
letárgico, como um sono profundo. adormecemo-nos naquela que, por ensejo, acreditamos ser a liberdade, ludibriamo-nos com hipóteses de sonho, confiamos nos outros - aqueles que nos prometem o sonho - confiamos na nossa cegueira, no nosso mau instinto e depois... depois sofremos por aqueles a quem confiamos a confiança. ELES. eu sofro-os.
olho o meu reflexo, aquela janela da verdade a quem chamam espelho, e olho-me cegamente, eu confio-me mas a sombra da dúvida paira como o sfumato no quadro espelhado. serei eu mesmo eu? serás tu...?
tenho medo, nada é como parece, eu posso amar-te sem saber... e tu? confio-te a minha ignorância, mas o receio controla a confiança porque eu não sei quem tu és e nada é como parece.

(escrito a 11/97, dedicado à Causa Justa, arranjado a 17 de junho de 2006)

BellaMafia

Dança das palavras

pego na caneta, arrasto-a pelo papel qual dança coreográfica destinada à criação. não são palavras quaisquer que surgem do desígnio, são de léxico redondo e métrica eloquente, pautadas por razões superiores à razão.
não me abstraio de pensar, enquanto a ponta extrema da minha intenção resiste ao lugar comum das palavras... espero o sentido divino em cada gesto, espero o momento em que palavras iludem palavras e realizam acções.
por isso pego na caneta, aquele instrumento solitário, de vida finita... aquele a quem desejo dar o destino que qualquer caneta merece, o destino da obra de arte, do casamento da prosa, do baptismo da folha virgem, da consumação do acto... e ao pensar arranho a tal folha virgem e exprimo o que me traz o âmago à memória.

BellaMafia

terça-feira, junho 13, 2006

Um quarto de memórias

Chegado o horizonte
__________Ponte do sonho /pesadelo,
Fico-me estático sobre pilares de dúvida.
Conta-se sem segredo,
________Mas medo, quem de lá não regressou.
Fico réu, aquele a quem,
___no mar de ninguém, a consciência afirma:
______________________o mundo mudou!

no silêncio, mudo cedo
e experimento a medo, o chão que o fado me indicou.

(criado em 2002, por moimêmemyself, como diria um nevermind.)

BellaMafia

domingo, junho 11, 2006

Daltonismo

i am color...blind
coffee black and egg white
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am
taffy stuck, tongue tied
stuttered shook and uptight
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am...fine
i am covered in skin
no one gets to come in
pull me out from inside I am folded, and unfolded, and unfolding
i am
colorblind
coffee black and egg white
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am...fine
i am.... fine
i am fine

(colorblind, by the countingcrows)

dizem que o daltonismo atinge só os homens, pois eu vejo muitas mulheres daltónicas deambularem pela vida como representantes de um pantone de cores. mulheres que não sabem amar o que têm, não sabem dar valor ao que têm e depois... não sabem perder o que tiveram.
triste. triste história... é depois dizerem: "como fui tão cega"... blind, eu diria mesmo colorblind.

BellaMafia

sábado, junho 10, 2006

Panaceias

é enquanto prostrados numa cama, que sentimos o peso da energia que reside em nós... quando ela se esvai, qual amor desenamorado, e uma dor profunda enterra-se nos nossos pontos xacras e contorcemo-nos, arrepiamo-nos, sentimo-nos ensandecer.
tomamos a panaceia, a esperança, por momentos pouco lúcidos, reside naquele pequeno volume geométrico, de atributos anónimos ao nosso padecimento, e quando a dor se ausenta e a convalescença se apronta, amamos a panaceia como um deus, que nos perdou os pecados que não recordamos.
viramos fãs, gritamos no meio da multidão o seu nome, exibimos cartazes de apoio e juramos que reside ali a salvação, "pois nós fomos salvos" dizemos com convicção.
- assim reside a fé do povo, seja ele ecléctico, divino, elitista, pobre ou média-classe - quem sabe média gama! - basta uma panaceia, uma palavra, um credo, para que as mentes hipnóticas que "sensivelmente" tratamos se quedam por um conto de fadas, que a existir reside apenas nas mentes de quem veste a pele das personagens.

BellaMafia

terça-feira, junho 06, 2006

Encontro imediato

não me esqueci de ti.
___contei ser dona de um estar
___que calasse esta dor em mim...
___e não consegui.
não! Não me esqueci de ti.
___como um poeta quedado na dor,
___ignorei tudo menos palavras e escrevi,
___as tuas sombras, as tuas pégadas, o teu calor.
não me esqueci de ti.
___vives no epicentro da minha consciência sísmica,
___fazes-me olvidar palavras e falar por mímica.
___por tudo o que escrevi, vivi e vi...
como posso eu me esquecer de ti?

BellaMafia

sexta-feira, junho 02, 2006

Golpe de teatro

atravesso o umbral da velha porta do drama, as luzes tocam na sala quais dedos de sol, subtraindo à sala vazia o domínio das sombras, vestindo o espaço despido de presença.
não estranho a ausência humana... o espéctaculo foi tristemente alienado pelas audiências do pseudismo cultural. preencho cada cadeira abandonada com um pensamento na esperança de ver devolvido o investimento.
sento-me. estou emparelhada pelo vazio, à esquerda imagino-o de expressão carregada, pensativa como que a perscrutar um folílio com o exórdio da peça. à direita acompanha-me um vazio boémio. descontraído na pose como na vida, sem esperanças por simples falta de consciência, aguarda o iniciar da peça, como espera pelo iniciar da sua própria vida.
fecho os olhos. já não resta muito tempo, ele rouba-me os minutos. reabro os olhos e vejo as luzes a esmorecerem, o meu coração acelera, ouço as pancadas na velha madeira do palco plagiante da vida e sinto o remexer das cortinas qual composição musical. elevam-se e com elas elevo-me eu. acabou o sonho, começa o drama e sem sentir tristeza pela perda, invisto num novo sonho e parto.

BellaMafia

quarta-feira, maio 24, 2006

Quatro pregos

quatro pregos escondem um quadro de pecados. como cicatrizes que o tempo escondeu mas não esqueceu. contornam-nos, quais eloquentes ondas sísmicas, nervuras concêntricas, que a idade condenou ao flagelo da presença eterna num rumor de lugar. E qual simbolo do excelso - oh! prego - pregas o belo na fealdade do acto atroz...
sim, são meros pregos enterrados num pedaço de madeira... mas serão também golpes inflingidos na alma de quem sente o pedaço de madeira como seu âmago.
pois virgem é o pensamento daquele cujo prego é nada mais que um mero prego.

(consultar mindplaces.awardspace.com)

BellaMafia

quinta-feira, maio 11, 2006

O espelho

volto-me... e revolto-me, sem paixão por aquela vida cíclica que sangra o sonho. custa-me olhar-te nos olhos e sentir o crónico afastamento. não tenho ilusões, para tal bastas-me tu... uma parca imagem que se perpétua nesta existência sem cor. como um pouco de tudo e um muito de nada, vejo-te promessa brilhante prostrada ao sono da vaidade.
não tenho como sair de ti, fizeste-te residente... um contentamento descontente, assumo-te como um ópio, serva da vontade sem rumo.

e é quando te olho no espelho, qual montra de defeitos e dor, que sinto o triste fado em mim.

BellaMafia

terça-feira, maio 02, 2006

Carta de amor

estou afogueada, bate na mesa de vidro temperado o sol das quatro, mas não bate quente, é uma qualquer reacção em mim que me denutre... fecho os olhos e pergunto-me que falta terei. à mente assolam-me pensamentos teus, rasgo um sorriso na cara quando te revejo na praia a gelar com o frio das águas de Maio... é a saudade, sim a saudade que me afronta o estar, quero-te perto mas tenho-te longe. olho-te pelos olhos de Deus, não há figura mais perfeita que a tua e a suspeita de imperfeição é o gesto obsequiante do ser divino.
sustenho a respiração, passou mais um minuto... outro segundo... o tempo leva-me a ti e eu deixo-me ir. o caminho é tão longo... tenho medo de me perder no desvaire da vontade, mas tu tiras-me os pés do chão e deixas-me voar sem medo do ontem, do hoje, do amanhã.
receio abrir os olhos para não te encontrar lá. sem ti visto um manto de nada... sou a tua ausência, uma sombra num dia sem luz, um sonho sem lar.
como um medley que anseia pelo suspiro da audiência, continuo à espera da tua aparição, sei que será para breve a reunião, mas até lá...
vivo cumplice com a vida e tu és a unica testemunha. vem, vem depressa e fica.

"This one's dedicated to the one i love"
Joao Ribeiro

BellaMafia

segunda-feira, maio 01, 2006

A relação petróleo/neurónios

ok... à partida a razão entre estes dois fenómenos naturais - naturais de formas diferente, pois claro! - é algo abstracta, abstracta por que este é o novo vocábulo utilizado para justificar a inexistência.
eu, porque não sou pessoa para padecer nas raias da inexistência tratei de arranjar algo de substantivo para este adjectivo... a verdade, caros chewies (nome de todos os leitores ávidos por uma boa história... ou será estória?, estou tentada a escrever hestória, bem não sei!), é que a relação entre estes dois paradigmas da sociedade moderna vaticina o fim da existência. E perguntam voçês: mas como é que soubeste isso mestre? bem, não posso responder a essa pergunta, mas dou-vos uma pista: CLARIVIDÊNCIA!
O nosso, até à bem pouco tempo, amigo petróleo entrou numa onda de hostilidades. Recusa-se a reproduzir - mesmo violando as leis do santíssimo sacramento e vaticano - continua a utilizar preservativos nos seus componentes, inviabilizando a criação! e nós esmorecemos com sede e ficamos espectantes com as sucessivas one night stand do gajo! Ora só me resta aferir o que já aferi, é o fim da existência... no oil no spoil, no spoil no fun, no fun buy a gun and eliminate your sad, sad, sad sorrow ass!
Quanto aos famigerados neurónios... é razão para dizer soltem os prisioneiros, sim porque nós só podemos estar encarcerados na burrice. Viver na sombra de um ímpio elemento como o petróleo, pecaminoso, que vive da luxuria... sim, é razão para os neurónios erguerem a honra e clamarem mea culpa, porque nós vivemos subjugados ao monopólio de subvertidos como o sr. petróleo, libertem os Leonardos DaVinci e os Einstein das nossas cabeças e submetamos o curso da tirania ao seu devido locci, que com indevido respeito, é debaixo (tipo 7 palmos) de terra!
Pois a relação entre estes dois ilustres está na razão matemática entre a burrice de um e a leviandade do outro! quanto mais ignóbil a atitude neurótica mais insultuosa é a produção petrolífera! E é bom que se diga: a petrolífera não prolifera... bonito ehm?!

BellaMafia

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Liberdade acima de tudo!

não sei se tenho que me desculpar só por escrever, mas da maneira como o mundo anda hoje nunca se sabe! peço desculpa! peço desculpa por viver num mundo livre, onde a minha liberdade é mais sagrada que qualquer religião ou credo! peço desculpa por achar profundamente medieval revoltas de índole física e agressividade bacoca porque um grupo considerável de pessoas no médio oriente se preocupa mais em servir de chinelos a pés desonestos do que honrarem realmente a sua religião! peço desculpa por não ser muçulmana! peço desculpa por não pregar a Alá e a Mohammed, mas também com os péssimos exemplos que vêm do oriente privo-me com toda a certeza de me associar a essa causa! E eu sei que existem muçulmanos bonzinhos e queridinhos e amorosos, mas sinceramente esses também devem ser responsabilizados por não terem uma voz mais activa na condenação daqueles que deturpam os valores do islamismo. o silêncio deles é consentimento e eu NÃO DESCULPO.

BellaMafia